terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Que falta nesta cidade?

Que falta nesta cidade?.....................................Verdade
Que mais por sua desonra.................................Honra
Falta mais que se lhe ponha...............................Vergonha.

O demo a viver se exponha,
por mais que a fama a exalta,
numa cidade, onde falta
Verdade, Honra, Vergonha.

Quem a pôs neste socrócio?...............................Negócio           
alívio
Quem causa tal perdição?...................................Ambição
E o maior desta loucura?....................................Usura.

Notável desventura
de um povo néscio, e sandeu,
que não sabe, que o perdeu
Negócio, Ambição, Usura.

Quais são os seus doces objetos?......................Pretos
Tem outros bens mais maciços?..................................Mestiços
Quais destes lhe são mais gratos? ........................Mulatos.

Dou ao demo os insensatos,
dou ao demo a gente asnal,
que estima por cabedal
Pretos, Mestiços, Mulatos.

E que justiça a resguarda? ....................................Bastarda
É grátis distribuída?..............................................Vendida
Quem tem, que a todos assusta?............................Injusta.

Valha-nos Deus, o que custa,
o que EL-Rei nos dá de graça,
que anda a justiça na praça
Bastarda, Vendida, Injusta.


E nos Frades há manqueiras?...................................Freiras
Em que ocupam os serões?......................................Sermões
Não se ocupam em disputas?....................................Putas.



Com palavras dissolutas
me concluís na verdade,
que as lidas todas de um Frade
são Freiras, Sermões, e Putas.

O açúcar já se acabou?.............................................Baixou
E o dinheiro se extinguiu?........................................Subiu
Logo já convalesceu?................................................Morreu.

À Bahia aconteceu
o que a um doente acontece,
cai na cama, o mal lhe cresce,
Baixou, Subiu, e Morreu.

A Câmara não acode?.............................................Não pode
Pois não tem todo o poder?....................................Não quer
É que o governo convence?...................................Não vence.

Quem haverá que tal pense,
que uma Câmara tão nobre
por ver-se mísera, e pobre
Não pode, não quer, não vence.

(Gregório de Matos)


TRISTE BAHIA
Triste Bahia! Ó quão dessemelhante
Estás e estou do nosso antigo estado!
Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado,
Rica te vi eu já, tu a mi abundante. 


A ti trocou-te a máquina mercante,                         comerciar e modificar
Que em tua larga barra tem entrado,
A mim foi-me trocando, e tem trocado,
Tanto negócio e tanto negociante.

 
Deste em dar tanto açúcar excelente
Pelas drogas inúteis, que abelhuda
Simples aceitas do sagaz Brichote.
            Ingredientes para remédios / estrangeiro

Oh se quisera Deus que de repente
Um dia amanheceras tão sisuda
Que fora de algodão o teu capote!

                                                 (Gregório de Matos)



Pinta-se o amor sempre menino, porque, ainda que passe dos sete anos, como o de Jacó, nunca chega à idade de uso da razão. Usar da razão e amar, são duas coisas que não se ajuntam. A alma de um menino que vem a ser? Uma vontade com afetos, e um entendimento sem uso. Tal é o amor vulgar. Tudo conquista o amor quando conquista uma alma; porém o primeiro rendido é o entendimento. Ninguém teve a vontade febriciante, que não tivesse o entendimento frenético. O amor deixará de variar, se for firme, mas não deixará de tresvariar, se é amor. Nunca o fogo abrasou a vontade que o fumo não cegasse o entendimento. Nunca houve enfermidade no coração que não houvesse fraqueza no juízo. Por isso os mesmos pintores do amor lhe vendaram os olhos."

Padre Antonio Vieira


1.    Para o pregador, por que o amor nunca chega à idade do uso da razão ?


2.    Este sermão pode ser considerado como um texto



a)     épico
b)    dramático
c)     argumentativo
d)    narrativo
e)    lírico




3.    Nesse fragmento se evidencia um dos aspectos mais marcantes da arte barroca – o jogo de contrastes. Explique como isso ocorre no texto.


4.          No texto, afirma-se: “Pinta-se o amor sempre menino ...” A qual divindade corresponde essa imagem do amor-menino?



5.          Por que, segundo Vieira, Cupido é sempre menino?


6.          Qual a tendência estilística do Barroco mais evidente no texto, cultismo ou conceptismo? Por quê?

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